quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Primeiro superar o pânico, depois superar o medo


A história de hoje, não deixa de ser também de superação. Mais de um ano livre dos medicamentos e da síndrome do pânico, não significam que a ansiedade tenha simplesmente desaparecido, afinal de certa forma, acredito ser isso mais um traço de personalidade do que propriamente uma doença, e que se não for controlado, aí sim, pode tomar tal dimensão.
Mais: Longe de querer me lamentar, pois também não costumo viver disso, e apenas para ilustrar o fato, passei por um ano de testes de paciência, resistência, resiliência e - porque não – de sobrevivência. Foi um ano onde aconteceram coisas que não desejo ao meu pior inimigo. E consegui sobreviver a tudo sem sequer uma receitinha controlada.
Alguns diriam que foi um ano de fracassos, eu digo que foi um ano de superação. Agüentei no osso do peito, impávida, que nem Mohhamed Ali.
Contrariando tudo o que apareceu para me derrubar, optei por viver mais e melhor, e feliz. E sem esperar por ninguém. Tem companhia pra ir, ótimo! Não tem? Faz a trouxa e vai sozinha.
Assim peguei a moto e rodei pela ilha com a máquina para ficar tirando fotos, assim saio, bebo, danço, dou risada. Pra que rivotril se inventaram o Johnnie Walker, não é mesmo? Claro, uma coisa de cada vez, moto sem Johnnie, Johnnie sem moto.
E eis que surge através de um fórum e uma comunidade do orkut um convite para um encontro nacional de motos custom, com uma votação para definir o local.
Inicialmente torci por Laguna, onde teria onde ficar, ou Gov. Celso Ramos, que seria pertinho para ir e voltar, mas “não deu”. O pessoal preferiu Barra Velha e eu não teria como ir para “aquela distância”, fora tantos outros problemas que dificultariam tudo.
Passaram o link do fórum na comunidade do orkut e com muita tristeza no coração declinei do convite. Até que mais perto do evento um participante da comunidade fez o que não devia: provocou a catarinada, dizendo que a gente “tava se mixando pra rodar 100 km”. Aí eu fiquei macho que nem a Anita Garibaldi e comecei a cogitar a possibilidade de ir ao tal encontro.
Uma semana olhando a previsão do tempo, uma semana calculando que hora chegar e que hora sair pra fazer um bate-volta. Uma semana pensando que louca que eu sou de ir pra um lugar onde eu não conhecia uma viva alma que não fosse de um simples avatar (aliás, mesmo nessa situação, umas três e olhe lá)...uma semana voou e sábado à noite passei a noite em claro pensando na maluquice que ia fazer.
Domingo de manhã, com aquele tempo horroroso, lá estava eu, de capa de chuva, indo para o posto abastecer e calibrar os pneus.
Saí do posto, olhei para a BR 101 e lembrei da minha cama quentinha. O estômago doía, o corpo todo doía, a respiração era descompassada, as mãos frias. Taquicardia. Mais uma vez a ansiedade iria estragar tudo. Só quem passou por isso é capaz de entender o quanto esse estado de coisas amedronta. “E se eu apagar na estrada?”, “e se eu voltar a ter uma crise daquelas no meio do caminho?”, e se... quer saber, tem SAMU pra isso. F-O-D-A- - -S-E!
Decidi ir até onde conseguisse. Se conseguisse chegar a Biguaçu naquele estado lastimável que saí de casa, voltaria vitoriosa, se chegasse a Barra Velha, chegaria superada.
Peguei a primeira chuva em Tijucas e pensei em fazer o retorno no primeiro viaduto, mas vi que dava para ir um pouco mais. Pensei, vou tocar até Balneário, passei adiante, mais à frente olhei para o hodômetro e vi que já tinha rodado mais de 60 Km, ou seja, mais da metade do caminho, o que desfez completamente o sentido de voltar, passei do meio do caminho, agora estou lá.
Não acreditei quando cheguei à pousada, claro, depois de ter conseguido me perder e ter passado duas vezes pelo “enorme” centrinho de Barra Velha.
Mal descolei o traseiro da moto, fui logo convidada por uma turma para ir fazer um “passeio” em Balneário, Itajaí e Navegantes. Quase chorei, parecia que tinha levado uma surra de tão cansada daqueles “míseros” 120 Km, agradeci e desejei um bom “passeio” àqueles malucos.
Fui recebida pelo Jovi e a Ana, que foram tratando de me apresentar aos demais, e fui conhecendo gente, e conversa daqui, e conversa dali, saímos numa meia dúzia de motos para lanchar, voltamos, e já comecei a sentir uma pena de ir embora.
A cada minuto eu me impressionava com uma coisa diferente. Ora a alegria das pessoas, ora a gentileza, ora a forma de organização, a solidariedade, a amizade. E a cada minuto eu me sentia mais feliz por fazer parte daquilo tudo.
Conheci pessoas incríveis, descobri que tenho um xará que também tem poderes de fazer chover quando sai de moto! Descobri que honestidade ainda existe e que existe confiança nessa honestidade na hora de marcar as cervejinhas. E dei um jeito de ficar, e não me arrependi.
No dia seguinte aproveitei, para minha “viagem” de volta, o comboio que desceu para Floripa para dar uma voltinha, e tive a grande satisfação de rodar com eles pela minha terrinha natal.
Não tenho palavras para agradecer a acolhida de uns, o carinho de outros, a paciência, a presteza, a amizade. Só não sei até agora foi como demorei tanto para participar de um encontro desse tipo.
Não tenho como citar nomes porque tenho uma péssima memória para isso e corro o risco de cometer injustiças, e foi muita gente legal para muito pouca memória, não consegui decorar tantos nomes, mas queria fazer um agradecimento especial ao Jovi e à Ana pela acolhida e as apresentações, ao Sky e ao Flávio com relação à permanência no evento (culpa de vocês) e a todos os que fizeram companhia seja na saída para o almoço, seja numa boa conversa, seja na estrada para a volta. Vocês são todos especiais!
Valeu cada gota de chuva, cada calafrio, cada enjôo, cada pergunta de “o que que eu to fazendo aqui”, quando fui sozinha para Barra Velha. Porque eu fui individual e voltei coletiva. Fui solidão e voltei solidariedade. Fui com medo e voltei fortalecida.
Diante de tudo isso só resta proferir a frase que mais gosto de dizer quando tomo umas e outras: “Eu amo todos vocês!”. Obrigada por tudo, e até o próximo encontro!

 "Porque eu fui solidão..." (Foto: Mara)


"...e voltei solidariedade".  (Foto: Mara)

Aos ansiosos de plantão, fica a dica: se eu tivesse cedido ao primeiro impulso, teria desperdiçado todo o meu feriado embaixo das cobertas, na internet e socando a minha televisão que insiste em não funcionar direito... Toda persistência acaba sendo recompensada.