domingo, 5 de maio de 2013

Não tente fazer isso em casa. A menos que sinta vontade.

O título não é sem propósito. O que aqui escrevo justamente não é aconselhado pelos médicos, é uma atitude tomada após uma reflexão pessoal que tem um preço que preferi pagar pela escolha, por apostar na tentativa e erro. Cada pessoa reage de forma diferente a tratamentos diferentes, e creio, há casos onde cada um tem consciência de si, como há outros em que talvez infelizmente o paciente já tenha perdido essa prerrogativa e dependa realmente dos outros para correr atrás da tão sonhada melhora. O fato é que após cinco dias, concluí que apesar de estar muito mal ao procurar um médico para tratamento, certamente ainda estava muito melhor do que agora, com essa medicação - Cloridrato de Venlafaxina, 75 mg.

Sim, existe a tal "fase de adaptação", pela qual é necessário passar, onde vários efeitos colaterais são relatados como enjoos, distúrbios de sono, tonturas, vertigens e que exige uma boa dose de paciência e disciplina da parte de quem se dispõe ao tratamento medicamentoso.

O fato é que nem de longe e nem em meus sonhos mais malucos imaginei passar pelo que passei esta semana. Uma semana totalmente inutilizada. Por conta justamente destes efeitos a médica pediu afastamento de cinco dias pois seria extremamente difícil passar pela adaptação no ambiente de trabalho. Dirigi-me a um médico por simplesmente não estar mais conseguindo lidar com a ansiedade. Estava levando vida "normal", com a diferença de que o alerta andava ligado: já acordava com o pé no acelerador - taquicardia, respiração rápida e ofegante, tolerância a mais nada, só que já com reflexos na saúde física. Antes que isso se transmutasse em danos maiores, tentei "estancar a goteira antes que a represa ruísse". Ledo engano, existe sim coisa pior.

Como não sou profissonal, não arrisco a dizer se foi a dosagem, se foi o remédio, se foi tudo junto, afinal cada organismo tem uma forma de reagir às mesmas substâncias. O fato é que cheguei a achar que teria cinco dias para além dos ajustes, tentar colocar a cabeça no lugar, mas vivi uma experiência horrível porém que me trouxe sim, a muitas reflexões.

Do primeiro para o segundo dia cheguei a perder um quilo pelo fato de não conseguir ingerir nada devido aos enjoos fortíssimos. A tontura me fazia sentir um daqueles bonecos joão-bobo e o sono era algo incontrolável. Passei poucas horas acordada no restante dos dias, e das poucas, sempre tonta, boca seca, visão totalmente perturbada. Já houve situações onde apelei para a medicação por simplesmente não conseguir mais sair da cama ou por meus pés na rua, tal a situação deplorável em que me encontrava, e desta vez não. Estava mal mas ainda andava com minhas pernas e o que me pôs em situação deplorável foram os "remédios". Por volta da quinta noite, além de tudo isso, tive uma sensação de desespero que me levou a passar a noite em claro, assustada, mas era um medo anormal, algo pelo qual não havia passado. Poderia dizer, algo sombrio mesmo. Não é algo fácil quando se vive sozinho. Tenho pessoas próximas preocupadas e dedicadas, claro, mas não é o mesmo que ter o apoio de alguém 24h, e isso, esquece! Foi a gota. Decidi no sábado não mais tomar essa medicação e procurar uma outra alternativa.

Agora entra o tal "preço" que falei, afinal, ninguém simplesmente decide voltar atrás e sai ileso. O preço foi aguentar no máximo umas duas horas na festa de aniversário do meu irmão, sair para dormir, dormir mais de 12 horas, levantar ainda com sono, e passar o domingo à tarde com a boca e o rosto dormentes, as extremidades dormentes, tontura, enjoo, que também são sintomas da abstinência, que ainda vão me acompanhar por alguns dias. Sem moto há uma semana e nem sei quando poderei chegar perto dela novamente. Cheguei ao ponto de não conseguir decifrar o letreiro de um ônibus, tamanha visão embaçada. O legal é que tem horas que você se pega rindo sozinho e pelo menos ri da desgraça.

O que temos para a próxima semana então, é tentar armar um plano B. Tentar uma forma alternativa de tratamento. Por enquanto meu propósito é esperar passar esses sintomas da abstinência e ver como fica o comportamento. Diante disso, tentar batalhar apenas uma terapia sem medicamento ou caso não surta efeito, voltar ao médico sugerindo que me repasse a medicação anterior que era em dosagem mínima e que dava uma sensação de melhora, onde a adaptação não era tão abrupta e nem o medicamento parecia uma amarra. Praticamente era imperceptível.

Por mais que estejamos afetados, acredito que conseguimos ter consciência de como reagimos aos tratamentos. Em certas horas, uma "desobediência" também se torna necessária. Na minha visão de mundo, até cabe nas horas muito ruins, a tal "bengala" para ajudar a manter em pé em momentos de extremo desequilíbrio, mas por questões de princípio, não cabem amarras para a alma. Não cabe o "cala a boca e sossega aí", ainda mais para quem sabe como funciona minimamente a indústria farmacêutica e algumas relações promíscuas entre laboratórios e "receitantes". Não acuso o médico que me atendeu (muito bem por sinal), mas também não consigo confiar piamente ao ponto de me entregar às cegas. Sempre tem o pé atrás. 

Escrevo consciente de que não tive a paciência de esperar um prazo, no qual talvez a cabo de mais alguns dias, teria a situação "normalizada", mas me assustei demais justamente com a possibilidade de ao fim de alguns dias isso ser "normal". Acredito que força de vontade pode ser algo maior que isso, acredito em outras formas de tratamento que não sejam à base da "porrada". Não descarto o medicamento, somente acho que não podemos aceitar a primeira coisa que nos empurram goela abaixo. Acredito no direito de recusar até achar o mais acertado. Desses cinco dias, o que concluí é que estou com mais garra que nunca para correr atrás do que for preciso, até remédios, por que não? - para voltar ao mesmo estado de bem estar em que vivia antes de passar por essa turbulência. Sim, é mais uma, mas é SÓ mais uma de tantas pelas quais passei, e de muitas outras que ainda virão. Da mesma forma que nunca conseguiram me derrubar, também acredito que não me derrubarão.

Para refletir durante a semana que se inicia, fica esta mensagem de auto-ajuda, que sempre me mantém firme quando tudo parece desabar:

Eu vou é ser feliz!!!


 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Será?

"Você nunca verá uma motocicleta estacionada do lado de fora de um consulório psiquiátrico".



Pode parecer uma grande ironia, mas alguns instantes após voltar do consultório psiquiátrico, onde pouco tempo atrás minha moto estava justamente estacionada à frente, vejo essa imagem postada no facebook por um colega motociclista. Incrivelmente esse post me levou a uma série de questionamentos, afinal, se tem algo que me faz bem, que me faz relaxar e me concentrar em uma única coisa, é justamente andar de moto. Mas ela estava parada na frente do consultório do psiquiatra.

Não tem sido um ano fácil pois algumas pequenas incomodações foram se acumulando ao ponto de este ano me fazerem ter que apelar para a medicação, mesmo tentando aguentar no osso do peito, resistindo a isso por mais de três meses. Mais difícil ainda é aceitar que essas coisas tenham tanto poder de incomodar quando se está no que podemos chamar de "uma fase muito boa" da vida...

Os mestres da auto-ajuda, os otimistas de plantão e os que nasceram de quina pra lua, vivem repetindo que na vida tudo é uma questão de escolha. Sim, até certo ponto, é, não posso discordar totalmente. Há porém, situações na vida em que a escolha pode ser apenas pelo menos pior, mas ainda assim necessita pesar e medir variáveis até que você chega à conclusão que o melhor a fazer é engolir o sapo e sem maionese. Só que o sapo está vivo e não para quieto, aí só resta a medicação, para dar aquela impressão que o sapo está morto...

Escrevo este post sob os efeitos horríveis da adaptação ao medicamento. Tonturas que não me permitem parar direito em pé sem pender para um lado, enjoos, falta de fome (perdi 1 kg em um dia, e já não tenho muito o que perder), sono maluco, secura na boca. Nem pensar em chegar perto da moto. Três dias em casa indo da cama para o sofá e vice-versa, nem na rua dá para sair sozinha.

O que me deixa pior, porém nem é isso, é a sensação de não conseguir resolver os problemas e ter que apelar para a "lobotomia" para conseguir suportá-los, pois ao contrários dos "fortes", o grau de ansiedade gerado por algumas situações que alguns conseguem suportar, no meu caso atingem níveis patológicos. Não dá para resolver os problemas acordando todos os dias com taquicardia, tremedeira, sensação de fraqueza nas pernas e a ponto de explodir, seja no trânsito, que já anda bem agressivo ou em qualquer situação de conflito por mínima que seja. Tem que apelar pro "amansa-loco".

Diferente de outras situações, o pânico não se instaurou, creio eu por conta de todos os trabalhos e tratamentos anteriores, trata-se agora somente de um caso de ansiedade impossível de ser controlada, pelo fato de ter que lidar diariamente com a causa . Aí eu vejo a importância de tudo o que já "investi" na saúde até hoje. Sim, estou uma bosta, mas poderia estar três vezes pior.

Não pude deixar de postar isso, porque quem vê o blog que fala sobre síndrome do pânico recheado de conquistas e coisas maravilhosas pode até desconfiar que se trata de um blog de propriedade de alguém que sofre mesmo do mal. Esse post é para mostrar o quanto estamos sujeitos a altos e baixos e o quanto temos que aceitar que isso fará parte das nossas vidas enquanto existirmos e que o segredo não é buscar freneticamente a cura e sim o controle. Correr atrás de cura definitiva só serve para colecionar frustrações. É possível viver momentos (e grandes períodos) incríveis mesmo apesar dessa predisposição, mas há que se estar sempre alerta aos menores sintomas, identificar o que pode ser evitado, e quando não pode, aceitar o tratamento.

O momento atual é de tentar descobrir formas de resolver ou amenizar os problemas, colocar a cabeça e as energias no lugar e seguir adiante, dias sim, dias não, tentando "sobreviver sem um arranhão", buscando a cada dia saídas para driblar e por fim, superar essa fase ruim. Quem sabe não é uma mexida que vem para definir coisas? Um tropeço que vem para acordar para a busca de outros horizontes? Ou o tal do "mal que vem para o bem"... O fato é que a hora é de arregaçar as mangas, de seguir em frente, afinal ainda tem muita vida pela frente e muitas viagens a fazer para registrar neste blog. Dependendo do meu esforço e da ajuda das pessoas queridas que me cercam, isso vai acontecer logo, logo.

Se viver fosse tão somente equilibrar-se sobre uma moto, certamente não só não haveriam motos estacionadas na frente dos consultórios psiquiátricos, como poderia afirmar que estes sequer seriam necessários.



Sangrando

Gonzaguinha

Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando
Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção
E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar