quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Primeiro superar o pânico, depois superar o medo


A história de hoje, não deixa de ser também de superação. Mais de um ano livre dos medicamentos e da síndrome do pânico, não significam que a ansiedade tenha simplesmente desaparecido, afinal de certa forma, acredito ser isso mais um traço de personalidade do que propriamente uma doença, e que se não for controlado, aí sim, pode tomar tal dimensão.
Mais: Longe de querer me lamentar, pois também não costumo viver disso, e apenas para ilustrar o fato, passei por um ano de testes de paciência, resistência, resiliência e - porque não – de sobrevivência. Foi um ano onde aconteceram coisas que não desejo ao meu pior inimigo. E consegui sobreviver a tudo sem sequer uma receitinha controlada.
Alguns diriam que foi um ano de fracassos, eu digo que foi um ano de superação. Agüentei no osso do peito, impávida, que nem Mohhamed Ali.
Contrariando tudo o que apareceu para me derrubar, optei por viver mais e melhor, e feliz. E sem esperar por ninguém. Tem companhia pra ir, ótimo! Não tem? Faz a trouxa e vai sozinha.
Assim peguei a moto e rodei pela ilha com a máquina para ficar tirando fotos, assim saio, bebo, danço, dou risada. Pra que rivotril se inventaram o Johnnie Walker, não é mesmo? Claro, uma coisa de cada vez, moto sem Johnnie, Johnnie sem moto.
E eis que surge através de um fórum e uma comunidade do orkut um convite para um encontro nacional de motos custom, com uma votação para definir o local.
Inicialmente torci por Laguna, onde teria onde ficar, ou Gov. Celso Ramos, que seria pertinho para ir e voltar, mas “não deu”. O pessoal preferiu Barra Velha e eu não teria como ir para “aquela distância”, fora tantos outros problemas que dificultariam tudo.
Passaram o link do fórum na comunidade do orkut e com muita tristeza no coração declinei do convite. Até que mais perto do evento um participante da comunidade fez o que não devia: provocou a catarinada, dizendo que a gente “tava se mixando pra rodar 100 km”. Aí eu fiquei macho que nem a Anita Garibaldi e comecei a cogitar a possibilidade de ir ao tal encontro.
Uma semana olhando a previsão do tempo, uma semana calculando que hora chegar e que hora sair pra fazer um bate-volta. Uma semana pensando que louca que eu sou de ir pra um lugar onde eu não conhecia uma viva alma que não fosse de um simples avatar (aliás, mesmo nessa situação, umas três e olhe lá)...uma semana voou e sábado à noite passei a noite em claro pensando na maluquice que ia fazer.
Domingo de manhã, com aquele tempo horroroso, lá estava eu, de capa de chuva, indo para o posto abastecer e calibrar os pneus.
Saí do posto, olhei para a BR 101 e lembrei da minha cama quentinha. O estômago doía, o corpo todo doía, a respiração era descompassada, as mãos frias. Taquicardia. Mais uma vez a ansiedade iria estragar tudo. Só quem passou por isso é capaz de entender o quanto esse estado de coisas amedronta. “E se eu apagar na estrada?”, “e se eu voltar a ter uma crise daquelas no meio do caminho?”, e se... quer saber, tem SAMU pra isso. F-O-D-A- - -S-E!
Decidi ir até onde conseguisse. Se conseguisse chegar a Biguaçu naquele estado lastimável que saí de casa, voltaria vitoriosa, se chegasse a Barra Velha, chegaria superada.
Peguei a primeira chuva em Tijucas e pensei em fazer o retorno no primeiro viaduto, mas vi que dava para ir um pouco mais. Pensei, vou tocar até Balneário, passei adiante, mais à frente olhei para o hodômetro e vi que já tinha rodado mais de 60 Km, ou seja, mais da metade do caminho, o que desfez completamente o sentido de voltar, passei do meio do caminho, agora estou lá.
Não acreditei quando cheguei à pousada, claro, depois de ter conseguido me perder e ter passado duas vezes pelo “enorme” centrinho de Barra Velha.
Mal descolei o traseiro da moto, fui logo convidada por uma turma para ir fazer um “passeio” em Balneário, Itajaí e Navegantes. Quase chorei, parecia que tinha levado uma surra de tão cansada daqueles “míseros” 120 Km, agradeci e desejei um bom “passeio” àqueles malucos.
Fui recebida pelo Jovi e a Ana, que foram tratando de me apresentar aos demais, e fui conhecendo gente, e conversa daqui, e conversa dali, saímos numa meia dúzia de motos para lanchar, voltamos, e já comecei a sentir uma pena de ir embora.
A cada minuto eu me impressionava com uma coisa diferente. Ora a alegria das pessoas, ora a gentileza, ora a forma de organização, a solidariedade, a amizade. E a cada minuto eu me sentia mais feliz por fazer parte daquilo tudo.
Conheci pessoas incríveis, descobri que tenho um xará que também tem poderes de fazer chover quando sai de moto! Descobri que honestidade ainda existe e que existe confiança nessa honestidade na hora de marcar as cervejinhas. E dei um jeito de ficar, e não me arrependi.
No dia seguinte aproveitei, para minha “viagem” de volta, o comboio que desceu para Floripa para dar uma voltinha, e tive a grande satisfação de rodar com eles pela minha terrinha natal.
Não tenho palavras para agradecer a acolhida de uns, o carinho de outros, a paciência, a presteza, a amizade. Só não sei até agora foi como demorei tanto para participar de um encontro desse tipo.
Não tenho como citar nomes porque tenho uma péssima memória para isso e corro o risco de cometer injustiças, e foi muita gente legal para muito pouca memória, não consegui decorar tantos nomes, mas queria fazer um agradecimento especial ao Jovi e à Ana pela acolhida e as apresentações, ao Sky e ao Flávio com relação à permanência no evento (culpa de vocês) e a todos os que fizeram companhia seja na saída para o almoço, seja numa boa conversa, seja na estrada para a volta. Vocês são todos especiais!
Valeu cada gota de chuva, cada calafrio, cada enjôo, cada pergunta de “o que que eu to fazendo aqui”, quando fui sozinha para Barra Velha. Porque eu fui individual e voltei coletiva. Fui solidão e voltei solidariedade. Fui com medo e voltei fortalecida.
Diante de tudo isso só resta proferir a frase que mais gosto de dizer quando tomo umas e outras: “Eu amo todos vocês!”. Obrigada por tudo, e até o próximo encontro!

 "Porque eu fui solidão..." (Foto: Mara)


"...e voltei solidariedade".  (Foto: Mara)

Aos ansiosos de plantão, fica a dica: se eu tivesse cedido ao primeiro impulso, teria desperdiçado todo o meu feriado embaixo das cobertas, na internet e socando a minha televisão que insiste em não funcionar direito... Toda persistência acaba sendo recompensada.

sábado, 11 de junho de 2011

“MORRO DE MEDO DE ANDAR DE MOTO” – PARTE II (Ou o porquê do pânico de andar de moto)


Como mencionei no texto anterior, nesta segunda parte pretendo trabalhar as origens do pânico, especialmente o de andar de moto.
Qualquer pessoa que me lê pode dizer que está mais do que óbvio que andar de moto é perigoso e que não foi à toa que esse pânico surgiu, oras: é puro medo de morrer, que outro motivo teria?
Mas regressando um pouco às aulas na auto escola, ou até antes, quando comprei a moto antes de ter a carteira, o fato é que com toda a empolgação que eu tinha, andava tranquilamente de moto em locais mais afastados antes da carteira e não sentia medo.
As aulas práticas na auto escola foram feitas da forma mais tranqüila o possível, até que chegou a hora da prova.
Na primeira que fiz para carro, reprovei e não me deixaram fazer a prova de moto. Na segunda vez um mês depois, também reprovei mas me deixaram fazer a prova de moto, e nessa passei com louvor. Diante daquela pressão de ter que passar na prova de carro para poder tirar a carteira de moto e o estado lastimável que eu saía de cada prova (auto-estima totalmente destruída), decidi pegar somente a habilitação A e mandar a B para os ares, decisão esta que aliás me fez muito bem.
Depois do período de ansiedade até ter a habilitação na mão, e dando as minhas voltinhas por aí, quando chegou o dia tão esperado, de encarar o trânsito, as avenidas, as sinaleiras, os ônibus e os caminhões, travei!
Suor frio, taquicardia, pernas moles, enjôos, os sintomas bem conhecidos de quem passa ou passou por isso, juntando às trapalhadas de iniciante, me fizeram algumas vezes chegar em casa dizendo que eu não tinha o menor talento para aquele negócio e que ia desistir da moto.
Meu marido sempre dizia que isso era uma grande bobagem, insegurança pura e que eu não devia desistir, apenas ir fazendo as coisas dentro dos meus limites.
Nessa mesma época estava fazendo análise uma vez por semana. Muitas pessoas por puro preconceito e me incluo na lista dos preconceituosos que protelou a análise por muitos anos por achar uma grande frescura, não acreditam nas mudanças que esse tipo de terapia pode provocar nas suas vidas.
Aos poucos comecei a ir matando a charada e descobrindo que a coisa que menos me assustava era o medo de morrer. Claro que esse é o medo que nos preserva a vida, mas não era o maior deles.
Tentando resumir ao máximo os dois anos que levei para fazer pequenas descobertas que foram essenciais para grandes mudanças, o que me paralisava basicamente era o maldito perfeccionismo.
Fui criada em um meio machista, onde por incrível que pareça quem sempre primou mais pela igualdade foi meu pai. Mas sempre cresci ouvindo o que homem pode e o que mulher não pode, e o que homem tem competência para fazer e mulher não tem.
Não sei como, nem porquê, nem por influência de quê ou de quem, desde criança eu teimava em fazer as coisas que os meninos faziam, só pelo gosto de provar que eu tinha a mesma competência de fazer. E tirava as melhores notas, e no que me metia a fazer era craque. Claro que na infância não é difícil ser craque de bola, ser uma das melhores da turma, fazer piruetas de bike, de skate, praticar esportes, e isso faz com que apareçam as pessoas que enchem a bola. E você se acostuma a andar com a bola cheia. Um belo dia porém você acorda e se vê num mundo de pessoas muito melhor preparadas do que você para tudo. E só ouve críticas, e  haja estrutura para isso.
Viver vira uma grande competição, tudo o que se faz tem que ser impecável, perfeito, sem erros, pois essa é a única forma de você continuar “sendo aceito” e de ganhar “as estrelinhas”, tais quais aquelas que as professoras davam aos “superdotados”.
Chega a hora de ir para o trânsito, e é necessário ir para a auto-escola. Não sei se todas as auto escolas são assim mas me assustei com o que vi na que escolhi.
O instrutor das aulas teóricas sem a menor cerimônia utilizava como exemplos “didáticos” exemplos de mulheres que não sabiam dirigir, reforçava o tempo todo que mulher não sabe dirigir, não sabe pilotar, nas aulas sobre mecânica básica dizia que mulher não precisa aprender a trocar pneu nem a entender de mecânica, que bastava apenas andar de minissaia e por aí ia o negócio... Triste mesmo é que a maioria das mulheres ria isso quando não concordava.
Na época da auto escola conversei com uma amiga que me disse que além de ter se criado num ambiente machista, ainda tinha um marido que ria dela cada vez que ela reprovava no teste do detran e ainda o fato era motivo de piada para ele contar para os amigos. Aí imagina uma pessoa assim ainda cair nas garras de um instrutor idiota como o que eu tive.
Quando precisei encarar o trânsito eu não estava sozinha, tive que levar na garupa toda essa bagagem histórica, e junto com ela uma paranóia de que eu provaria para todos que mulher pode pilotar tão bem ou melhor que os homens.
Precisa de mais alguém para deixar a gente histérica do que a gente mesma???
Bingo! Descobri que o grande pavor de pegar a estrada não era nem de perto o de morrer, e sim o de errar. Se eu errasse, seria como todas as mulheres “que não sabem pilotar”, “que deveriam ficar em casa ao invés de atrapalhar o trânsito” e isso gerava uma grande ansiedade, capaz de se transformar em um transtorno comportamental.
Identificado o problema, ele está curado? Não!
É  um trabalho difícil de “reprogramação”. Ainda hoje quando escuto qualquer buzinada no trânsito, sejam motoristas se cumprimentando ou xingando outra pessoa por algum motivo, sempre acho que é comigo, que cometi algum erro.
Um exemplo clássico é o de uma vez que eu estava circulando numa avenida, na pista mais à direita, mas em baixíssima velocidade, pois estava procurando um prédio em endereço desconhecido e de repente ouvi um buzinaço. Já fiquei nervosa, achando que era alguém me xingando pela baixa velocidade, quando o carro que vinha atrás me ultrapassa, cheio de mulheres, fazendo sinal de positivo para mim, por estar pilotando sozinha uma moto grande...
Quando cometo algum erro por distração ou por simplesmente ser um ser humano passível de erros, ainda não me perdôo. Como é que pode? Na auto escola decorei o código de trânsito, estudei todas as regras, as sinalizações, como fui cometer o erro indesculpável de entrar numa contramão? Como esqueci a seta para trocar de pista? E por aí vai...
Qual a vantagem então de ter feito a análise? Justamente a de identificar e de esquecer isso rápido e não ficar me punindo para o resto da vida. A de ter descoberto que não só eu erro, mas os homens erram e outras mulheres erram, e se só os erros das mulheres são reforçados é por uma questão cultural que não sou eu sozinha que vou mudar.
Depois dessas constatações, minha vida não mudou, mas ficou enormemente facilitada.
Para aqueles que vêem as minhas fotos numa 250, de jaqueta, alforjes cheios de bagagem, viajando sozinha e pensa, pow, essa mulher é muito foda! Saibam que se trata de uma pessoa insegura, que ainda erra o tempo das marchas, que esquece de dar a seta, que apesar de ter uma postura defensiva, ler, estudar e tentar pilotar da melhor forma possível, comete erros primários mas se permite o prazer de pilotar, que se conhece um mínimo possível para saber quando a cabeça está legal para sair ou quando está confusa o suficiente para optar por ônibus ou táxi e dizer, olha eu vou, mas não de moto e que tira de letra o sarcasmo alheio quando pergunta: tem moto pra que?
Respondo agora: para andar quando quiser, quando estiver bem e quando isso for me deixar feliz. Não é obrigação. É prazer!

sábado, 19 de março de 2011

“MORRO DE MEDO DE ANDAR DE MOTO” – PARTE I

Deve ter sido a frase que mais pronunciei na vida. Também só conhecia moto de andar em garupa e também não lembro de nas poucas vezes que andei de moto, ter andado na garupa de gente normal. Se bem que quando era criança dava um dedo para dar uma voltinha nas motos dos tios, sem capacete e sentada no tanque da moto.
Depois disso nunca liguei muito para moto, ainda tem o histórico de perda de amigos jovens em acidentes estúpidos, aí tudo isso desestimulava. Era engraçado, no entanto, que cada vez que eu via uma moto “tipo harley”, aquilo me chamava a atenção de um modo inexplicável, aí eu brincava que quando ficasse rica, teria uma daquelas, mas para andar fora da estrada a 10 km por hora só porque era bonito.
Lá pela década de 1990, trabalhando fora, estudando, com a vida bem atribulada e naquela canseira de fazer tudo de ônibus pensei em financiar uma biz. Estava amadurecendo a idéia quando testemunhei um acidente horrível entre uma moça com uma shadow e um caminhão que criminosamente atravessou a faixa na BR 101 bem na frente dela. Afastei a idéia completamente.
Alguns anos depois, sabendo ser impossível comprar um carro, a idéia começou a martelar novamente, e mais uma vez fui amadurecendo e até pesquisando preços e outra vez presenciei um acidente, ainda mais terrível. Uma caminhonete veio pela BR arrastando uma moto em baixo do para-choque (por uma boa distância, talvez tentando se livrar da moto), e quando esta parou, achei que o motociclista tivesse caído antes e o carro estivesse tentando se livrar só da moto, eis que o motociclista se ergue, estava na moto e debaixo do carro.
Enterrei completamente a idéia de pilotar, aquilo era demais. E digamos que naquela época eu não era exatamente o que dava para se chamar de uma pessoa ajuizada.
Em breve pretendo falar sobre como essas crises de pânico se iniciaram, mas o que vem ao caso para esse texto é que já muito antes de pilotar já passava por esse problema, ou seja, não foi o fato de andar de moto que provocou. Aprendi a andar de moto APESAR do problema. Coisa de gente maluca mesmo.
Voltando ao tema principal, já na estabilidade dos meus trinta e poucos anos, resolvi de vez que ia pilotar e pronto. Que estava pelas beiradas de dormir em pontos de ônibus nos domingos para poder visitar meu pai ou meu irmão, que nem moram tão longe, mas os horários de fim de semana são simplesmente de amargar.
Então decidi que teria uma moto nem que fosse só para ir na casa do meu pai e do meu irmão. Conversei com meu marido e ele curtiu a idéia. Ele também não tinha carteira, aí já os dois se empolgaram para fazer auto-escola (sim, não tínhamos habilitação para pilotar nem sequer um patinete).
Procura daqui, procura dali, comecei a orçar uma biz. Pensei nela porque como “todo mundo tinha uma” achei que fosse a mais barata e tinha a questão de ser econômica. Me espantei com os preços, afinal eu nem gosto do estilo, aí já desanimei um pouco.
Não lembro como, ou onde, se foi na internet ou em panfleto, propaganda, vi a intruder 125 e pensei: bah, é linda e parece com o estilo de motos que acho legal, mas se a biz "mais simples", é tão cara, imagina uma dessas. De qualquer forma resolvi ligar, e me surpreendi com o preço e com as condições de pagamento. Coloquei uma foto dela na imagem do meu msn para olhar para ela todo dia e poucos meses depois ela estava na garagem da casa do meu irmão. Ela foi direto para lá pois não tenho garagem no prédio e não tinha carteira para andar com ela por aí.

Tirei minha primeira habilitação, somente para moto (a história de não conseguir para carro já contei aqui) aos 34 para 35 anos.
Na parte II contarei como foi a adaptação de uma pessoa já de certa idade ao trânsito em veículo considerado perigoso.




quarta-feira, 9 de março de 2011

PARTE III - LET'S RIDE!


Como já relatei, meu tempo de afastamento foi muito bem preenchido, tão bem preenchido que em nenhum momento me bateu aquele banzo, aquela sensação de estar sem nada para fazer. E olhe que segui praticamente à risca as restrições médicas de não poder fazer grandes esforços.
Num dia ia visitar alguém, em outro assistia a um filme, lia um livro, pegava a máquina fotográfica e ia para a beira mar tirar foto de biguás e gaivotas, ou ficava dentro de casa mesmo fotografando meus bichos e até as pipocas da bacia.
Houve dias em que me permiti ficar jogada no sofá assistindo “O Clone” novamente, ou quando abria um sol bem lindo, pegava a moto e ia dar uma volta, apesar de eu e o sol termos um acordo de não utilizarmos o mesmo espaço ao mesmo tempo. Incrivelmente, onde chego, ele vai embora!
A tal viagem que tinha sido programada para o ano passado teria que sair nesse período, ou “nunca mais seria realizada”.
Em novembro não pude me afastar porque tinha compromissos com o pré-vestibular comunitário. Em dezembro, além das correrias de fim de ano, recebi visitas em casa e apareceram umas questões pessoais para resolver, das quais não poderia me afastar. Seria então em janeiro, não fosse a quantidade absurda de chuvas que assolaram o Estado e que fizeram com que a defesa civil não parasse de repetir nos noticiários: “quem não tiver absoluta necessidade de viajar, não pegue a estrada, pode haver pontos de alagamento e quedas de barreira”. E o pior trecho é o do Morro dos Cavalos, pelo qual eu teria que passar.
Mais um mês dando voltas curtas, fotografando pipocas e já convencida de que não iria mais viajar, pois no começo de fevereiro teria nova bateria de consultas e exames, mas isso no comecinho do mês, sendo que entrou o segundo mês do ano e as chuvas não paravam.
Na noite de 16 de fevereiro, meu marido me cobrou da viagem: quando você vai pegar a estrada? Não vai visitar sua família? Me deu o estalo e respondi: talvez amanhã!
E assim foi, deixei os alforjes arrumados naquela noite, deixei meu marido no trabalho no outro dia de manhã e liguei para minha tia em Capivari de Baixo dizendo: tia, eu vou até o posto de gasolina abastecer e calibrar os pneus, se eu não ligar de novo, me espere para o almoço, se eu desistir ligo novamente avisando para não preocupar vocês.
Saí do posto rumo à estrada. Quando coloquei a moto na BR 101 pensei, desta vez não é para andar até ali, vou passar pelo menos duas horas pilotando.
Saí numa quinta-feira, por volta das dez da manhã, dia e horário de pouco movimento. Apesar de ter feito tudo de última hora, estava nos meus planos originais escolher um dia assim, não queria pegar movimento pesado ainda mais que o trecho sul está com obras em alguns pontos.
A sensação não dá para explicar. Ainda hoje quando penso na aventura, parece que foi outra pessoa que foi no meu lugar e eu estou contando a história dela. Liberdade, autonomia, independência... passear de moto com os amigos é bom, mas pegar a estrada sozinha não tem adjetivo que descreva!
Peguei um engarrafamento monstro no morro dos cavalos, e como não sou adepta do jeitinho, não quis cortar a fila pelo acostamento. Quase cozinhei de calça jeans, tênis e jaqueta zebra naquele sol de fevereiro. Passado o dito morro, só alegria.
Alguns trechos exigiam mais atenção como na altura de Paulo Lopes, onde tinha umas bolotas de asfalto no meio da pista que eram do tamanho de um capacete, fins de pista dupla, inícios de pista dupla, depois na altura de Imbituba, retas lisinhas, paisagens maravilhosas e eu fazendo parte de tudo aquilo, sem vidro, sem capota que se interpusesse, atrapalhando essa comunhão.
 Passei três dias na casa dos meus tios em Capivari de Baixo, com direito a roda de violão, cerveja, visitas a parentes não vistos há anos, visitas de parentes que não me conheciam, ida a lugares legais da infância e até “muita adrenalina”.
Um desses locais era a Gruta de Capivari, onde a gente ia em bando de bicicleta quando era criança. Chegando lá de mirage e com a minha tia na garupa, eis que cola atrás da gente uma viatura da PM, com os guardas olhando de cara feia, especulando o que fazíamos por lá, e seguindo a viatura, duas tias  de biz para saber o que a polícia iria fazer com a gente.
Quando tiramos os capacetes e a máquina fotográfica e nos dirigimos à gruta, a viatura deu meia volta e nos deixou em paz, e as tias  se foram também (decepcionadas, decerto).
Depois fiquei sabendo que andava pela área um traficante que tinha um “motão igual ao meu”. Será que ele tinha um grande porte igual ao meu também? Hehehe
No domingo de manhã toquei para Laguna. Minha idéia original do ano passado era ir a Capivari e na volta vir pingando nas praias do litoral sul, passar por Laguna estava no roteiro original, mas depois disso eu planejava voltar para casa na segunda feira, direto.
Fiquei na casa de outra tia, da qual eu também sentia muitas saudades e já estava há algum tempo sem ver, ou quando via, não tinha tempo de conversar. Quando cheguei lá no domingo de manhã, comecei a passar mal e a ter crises de ansiedade. Aí o bicho pegou!
De Capivari a Laguna eu estava me sentindo ligeiramente tonta, mas devido à pressão baixa mesmo, estava abafado demais e para ajudar, peguei ventos na “ponte” da Cabeçuda que me fizeram rir das vezes que senti medo de passar as pontes daqui de Floripa. Pista dupla, ventando de um lado e o “bafo” das carretas do outro, foi meio assustador.
 Acho que quando cheguei lá, entrei na neura de “amanhã viajo”, “amanhã tem que pegar a estrada”, “amanhã tenho que ir embora”... Depois do almoço deitei para ver se conseguia controlar isso e levantei mais ou menos na mesma, resolvi espairecer descendo para a praia.
Lóoooooogico que quando resolvi descer, o sol se escondeu, ficou frio e começou a garoar, mas fiquei por lá vendo o povo jogar bola e cuidando das cadeiras enquanto minha tia dava uma caminhada, e jogando aquele jogo de cobrinha no meu celular (ou no que ainda resta dele). Voltei para casa bem melhor.
De noite ficamos sozinhas eu e minha tia e contei dessas dificuldades e também do fato de eu ter passado mal de manhã, coisa que ela disse não ter percebido. Acho que por isso também muita gente se surpreende quando falo do problema, para eu deixar transparecer, a coisa tem que estar muito fora de controle mesmo.
Amanheci legal na segunda feira, me despedi da minha tia e peguei a estrada novamente. Ainda tinha tempo para ficar e curtir mais um pouco, mas a saudade de casa também já estava apertando, do meu marido, dos meus bichos, da minha cama (e  pensando na bagunça que estaria me esperando, heheh).
Um pouco antes da entrada de Itapirubá, deu na doida de ir para lá procurar a casa de um tio que também não via há muito tempo, cuja única referência que eu tinha é: ele mora no morro que divide as duas praias.
Era cedo, peguei a entrada e comecei minha investigação. Depois de algum tempo, achei o tal do morro. No morro ninguém conhecia o cara (e tinham me dito, ah é só chegar lá que todo mundo conhece).
Descobri depois que tinham três pessoas com o mesmo nome, todas morando próximas, com uma referência, comecei a subir o tal do morro. Tive que deixar a moto em baixo, pois era uma trilha, a qual subi debaixo de sol escaldante, de calça jeans, tênis e jaqueta zebra.
Pergunta aqui, pergunta ali, meu capacete rolou morro abaixo, peguei uma referência e disse, ah é a última, se não achar vou embora, estava suando e sedenta feito um camelo. Parei para perguntar para um senhor que estava abaixado mexendo num arpão sobre o dito meu tio e pensei, se esse cara não souber, ninguém mais vai saber, meu tio também pesca de arpão. Quando ele levantou a cabeça para responder – era ele!
Foi muito legal e divertido, fui super bem recebida e ele me mostrou o visual “estragado” da casa dele. Qualquer janela que se abra tem vista para a praia de Itapirubá, se subir “na laje”, tem vista para o outro lado do costão. Quem disse que eu estava com vontade de ir embora???
 Depois daquela despedida de mais de meia hora e de promessas de sim, volto qualquer dia (e vou voltar mesmo!), toquei mais um trecho até a praia da Pinheira, onde visitaria outro tio, mas ao chegar lá ele não estava. Pensei, almoço por aqui, faço o que agora? (oh, doce dilema) Lembrei de um velho amigo que morava na praia de fora. Mais um tantinho de estrada e estava na casa dele. Está aposentado e vivendo com a esposa à beira mar, coisa que ainda farei um dia também (mas sem esposa, com esposo de preferência).
 Depois do almoço quando a conversa estava ficando boa, só ouvi aquele estouro de trovoada, olhei para fora e nunca vi um céu tão preto e carregado. Vinha uma tempestade, tive que dar uma de cachorro magro, agradecer o almoço e sair correndo. Já estava bem perto de casa, mas além de não gostar de pilotar na chuva tinham as coisas que eu não queria molhar, entre elas minha máquina fotográfica novinha que ganhei de natal.
 Era muito louco, olhar para frente e ver o dia mais lindo do mundo e no retrovisor ver aquela tempestade se anunciando, dava a impressão de estar transitando entre dois mundos diferentes (que viagem, eu sei, mas é assim mesmo).
Naquela tarde não chegou a chover em São José mas certamente deve ter caído o mundo na Praia de Fora porque o negócio estava feio mesmo. No dia seguinte começou a chover aqui e não parou mais, o que me deu a impressão de que o tempo deu uma trégua para que eu pudesse realizar meu grande sonho.
Esqueci de mencionar que fiz muitas paradas pelo caminho para tirar fotos. Mais uma vez a maravilhosa sensação de ser dona do próprio tempo e destino, parar onde se quer, fazer o que se quer na hora e lugar que dá vontade.
Não sei se é melhor voltar para casa com a sensação de ter superado um grande desafio e ter realizado uma aventura, para muitos motociclistas insignificante, talvez alguns andem por dia a quantidade de quilômetros que levei anos me ensaiando para percorrer, mas que para mim foi indescritivelmente emocionante, ou voltar com tanta felicidade por tantos amigos que encontrei felizes e vivendo sua vida da melhor forma possível.  
A felicidade daquele amigo ou parente que é lembrado por nos ver depois de tanto tempo também é algo contagiante, pois nos tempos atuais visita é quase sinônimo de estorvo, ou a correria nos cansa e impede de ver um amigo, ou quando vencemos essa barreira do cansaço, podemos estar atrapalhando o sossego alheio.
Apesar disso é bom ter um tempo na vida para poder sentir saudades, e perceber que temos pessoas queridas que sempre tem os braços abertos para nos receber quando achamos que nesse mundo ninguém mais se importa com ninguém.
 Amanhã volto a trabalhar, seja o que Deus quiser.

P.S.: Esqueci de comentar - Sentiu vontade de fazer algo semelhante? Faça como eu fiz, mas seja mais esperto - use equipamento de segurança, calça, jaqueta, tênis. Mas use um bom par de luvas ou passe protetor solar nas mãos, porque cheguei com as duas torradas em casa...

sexta-feira, 4 de março de 2011

PARTE II - A PACIÊNCIA


Quando se sabe o que é um simples medo de sair à rua, pilotar 60 km de ida e volta são a glória, mas para quem acha que viver é ainda mais do que se contentar com pequenos avanços, esse ainda não pode ser o limite.
A tão planejada viagem para o Sul do estado, para Alfredo Wagner, Bom Retiro, Lages, com possível passagem pela Serra do Rio do Rastro, Urubici, Grão Pará, foi programada para as minhas férias de janeiro de 2010.
4 de janeiro de 2010, um sol maravilhoso, primeiro dia de férias depois de toda a incomodação e estresse acumulados no trabalho. Acordei cedo para levar a moto para a revisão, mas antes fui com meu marido até o trabalho dele para deixa-lo lá.
Na volta ia passar em casa para pegar a bolsa com o manual e as coisas que precisava levar à concessionária e tomar um cafezinho.
Ainda numa mistura de sono e euforia, eis que me chama atenção na calçada ao lado um cachorro com sarna, mas daqueles que não tem mais um pelinho sequer no corpo. Fiquei com pena e pensei que podia tentar passar ali depois para dar comida ou talvez ver com alguém se podia dar algum remedinho.
Nos três segundos que gastei pensando nisso enquanto olhava para ele, eis que viro para a frente e dou de cara com um fiat uno parado na pista (é um calçadão estreito) e eu já perto, um pouco acima da velocidade permitida na via que é de 40 Km/h. Sem muito o que fazer, grudei nos dois freios com vontade e depois só lembro que tinha um monte de gente em volta, uns levantando a moto, outros falando comigo e tentando me levantar. Engraçado mesmo, só lembro da visão do carro e depois do chão. Pelo que sei a roda traseira travou e a moto arrastou.
Tive apenas pequenos ralados na canela e cotovelos, mas torci o ombro esquerdo, o que acarretou depois em uma bursite que doía por demais.
Até conseguia andar de moto depois, mas ficar muito tempo naquela posição com os braços estendidos era bem dolorido, então viagem nem pensar. Liguei avisando meu irmão do ocorrido e eis que ele veio correndo até a minha casa para – isso mesmo – tirar fotos da irmã cheia de curativos e rir da minha inexperiência.

Acho que isso é que é o mais legal nas pessoas que me cercam, ninguém me trata como incapaz e até mesmo meu pai ao invés de fazer aqueles discursos “vende essa moto sua louca” dividiu as experiências de seus tombos de lambretta e demos boas risadas sobre o assunto, claro que depois vem as recomendações de mais cuidado.
De asa quebrada, em casa, e com bastante dor, os planos ficaram adiados por quase um ano.
Passei as férias indo à praia de ônibus, afinal se é para ficar sentindo dor dentro de casa, eu vou é sentir dor na praia que é lugar quente e tem cerveja ;)

No retorno das férias, a volta às atividades estafantes, o compromisso com as aulas, a falta de uma atividade física regular e a frustração pelas coisas não feitas por conta de consultas, fisioterapias e dores que me deixaram “amarrada” no sentido de não poder sair para muito longe por causa desses compromissos, fez com que entrasse em novo ciclo depressivo, com direito a novos e constantes surtos de pânico. Passava mal até andando na garupa da moto.
Procurei vários tipos de atividade física, mas nada ia dando certo: odeio academia, pilates era caro demais, não conseguia mais fazer capoeira regional porque não tinha mais “pique” e não achava onde praticar angola, hidroginástica é “esporte de velho” e os horários rígidos da natação são um tanto complicados.
Já que tinha tentado de tudo, resolvi ligar para um dos clubes náuticos de Florianópolis para me informar sobre a prática de remo, mas sem muita perspectiva, afinal o remo sempre teve um status de esporte de elite e achei que não teria como bancar. A grande surpresa foi descobrir que o remo é um esporte acessível e possível de praticar, mas quando me passaram os horários achei que jamais conseguiria.
Comecei em março de 2010. Acordava às 05:15 e já estava lá as 06:00 para correr, aquecer, alongar e pegar o barco, chovesse ou fizesse sol.

As três primeiras aulas eram a corrida e um treino de remo na máquina da academia, a quarta aula era na água. Chegando o dia da tal quarta aula, entrei no canói, segurei os remos, aprendi os movimentos, e eis que logo me vi entre as escunas, entre as pontes que ligam a ilha e o continente até que comecei a pensar: e se esse treco vira?
Fiquei que nem um cachorro dentro de um barco, dura, tensa, com enjôos, tonturas e vontade de chorar. Respirei fundo e tive que de certa forma manter a calma porque a primeira coisa que se tem que pensar nessa hora é: eu me meti aqui, eu vou me tirar daqui.
Desse dia em diante tive que assumir que não conseguiria mais fazer nada se não voltasse a tomar as “inas”. Lá fui eu de volta para os remedinhos, para os consultórios, para as sessões de acupuntura.
Com a prática diária do remo, dentro de dois meses de atividade regular aproximadamente estava livre dos remédios.
Claro, com a grande ajuda da médica acupunturista que me tratava que me despertou para uma grande questão. Reclamei para ela que fico estressada, estafada, doente, ansiosa e em pânico porque sempre que olho para minha vida me dou conta que estou sempre fazendo tudo contrariada. Só cumpro obrigações e tenho a sensação de que minha vida não pertence a mim. Não tenho tempo ou dinheiro para fazer o que tenho vontade.
Nesse sentido o remo entrou como algo transformador: meu dia ficou maior, com a sensação de que estava sendo melhor aproveitado, fora uma sensação inexplicável de tranqüilidade ocasionada pelos espetáculos diários do nascer do sol, assistidos de local privilegiado: ora da baía norte, ora da baía sul.
A médica, porém, foi mais além ao afirmar que o problema não é só uma questão de aliviar a cabeça, mas de alcançar a dita felicidade. E que a prática do remo era sim muito benéfica, porém individualista, e que para alcançar a dita felicidade eu deveria me perguntar não só o que estou fazendo pela minha vida, mas o que também tenho feito em benefício dos outros.
Tinha o trabalho voluntário no pré-vestibular, mas esse, sinceramente não canso de repetir, foi mais doação dos estudantes do que minha.
Me formei em geografia numa universidade pública, portanto ir lá e dividir com aqueles estudantes o que aprendi em um tempo livre é antes de qualquer coisa uma obrigação civil de ajudar outras pessoas a também poder freqüentar uma universidade pública, e do ponto de vista emocional eles me ensinaram muito mais do que eu a eles.
Achei então que uma boa forma de ajudar aos outros seria tentando me melhorar o suficiente para mudar e ser melhor no trato com os outros.  Pelo menos é o primeiro passo. De que adianta sair por aí fazendo “caridade” se o interior continua mesquinho?
Iniciei nos estudos Kardecistas e tenho aprendido grandes lições, e o melhor, sem as amarras bitolantes das religiões. Uma filosofia que impulsiona o ser humano para a busca do autoconhecimento e para a prática do bem jamais pode ser bitolante.
Em julho fui afastada do remo por conta dos contratempos relatados no post “estou doente, e agora?”, publicados aqui neste blog. A grande perda, porém, foi compensada pelo ganho também ali relatado, um período de afastamento com grandes restrições mas também recheado com grandes emoções.

quinta-feira, 3 de março de 2011

PARTE I - PROLEGÔMENOS

Às vezes chego a achar cômica a minha situação de assumidamente ter problemas com a ansiedade e o pânico e ao mesmo tempo ser motociclista. Mas às vezes acho que isso se chama disciplina e superação.
Para se ter idéia de como funciona nossa cabeça maluca, quando resolvi tirar habilitação para carro e moto estava numa fase maravilhosa, só que como todo bom ansioso, primeiro comprei a moto para depois me inscrever para tirar a carteira, tudo bem que também estava aproveitando as facilidades do mercado para financiamentos, mas mesmo assim o carro como sempre, veio antes dos bois.

No desenrolar dos fatos, como andei um pouquinho em lugares ermos com a moto, mesmo sem carteira, adquiri um tanto mais de confiança para a prova, ao passo que carro, só o da auto escola mesmo, e para ajudar na hora da prova de direção, a simpatia em pessoa senta do seu lado e fica mandando fazer isso ou aquilo da forma mais grosseira que ela consegue mandar e lá se foi seu sistema nervoso pelo cabo da embreagem. Faça uma prova nessa situação. Já na prova de pilotagem, graças ao bom Deus, a simpatia tem medo de ir na garupa de estreantes, então você faz tudo sozinho, bem mais tranquilo.
Reprovei, óbvio na primeira prova de direção e o instrutor não deixou fazer a prova de moto. Aguardei um mês para reprovar novamente na prova de direção mas por incrível que pareça o instrutor foi muito gente boa e me deixou fazer a prova de pilotagem. Passei.
Fui à auto escola, cancelei a habilitação B e fiquei só com a A mesmo. Não ia deixar uma moto zero estragando na garagem por conta de uma habilitação para carro que nunca saía sendo que eu nem tenho carro e nem sei quando vou ter.
O fato é que nesse período das duas provas a ansiedade foi a mil. Fora as cobranças: mas logo você? Como que você vai ficar nervosa com uma coisa tão simples? O instrutor da auto escola cobrando: como que você dirige bem na aula e não passa na prova? E a auto estima lá em baixo da barriga da cobra a essa altura do campeonato. Aliás dói mais ainda quando saio na rua e vejo cada barbaridade cometida por pessoas habilitadas que realmente não entendo como que eu não tenho carteira e essas pessoas tem...ou seja não precisa ser bom motorista, basta ter sangue de barata.
Toda essa ansiedade, cobranças externas e as piores – as internas – acabaram com meu sistema nervoso e ainda fizeram com que na hora em que eu já estava com minha habilitação na mão, olhar para a moto e não conseguir subir nela, quem dirá dar a partida e andar.
Nessa hora entrou a ajuda mais valiosa que tive, que foi a do meu marido. Ao invés de fazer o papel de marido convencional e dizer: Como que você vai andar de moto nesse estado, quer se matar??? – ele fez o papel contrário. Me convenceu que eu sabia andar muito bem e que eu deveria começar aos poucos. Uma manobra na garagem, uma volta na quadra, uma ida na casa do meu pai... e assim fui ganhando território. Não bastasse isso, a carteira dele saiu depois da minha, então ele ainda andava na minha garupa sem criticar nem demonstrar medo, mesmo quando eu deixava a moto morrer em alguma subida, com algum carro vindo atrás. Falem a verdade, isso não é um anjo?
O medo de morrer, claro, sempre me perseguia, mas quem sofre desse mal sabe do que estou falando: me dei conta que me trancar em casa com medo de cair de moto, com medo de passar mal enquanto piloto, com medo de desmaiar e ninguém socorrer é a pior forma de morrer em segurança, no conforto do lar.
Aí comecei a enfrentar pequenos medos: sempre dizia que queria uma moto só para ir à casa do meu pai sem depender de ônibus, pois passar a ponte de jeito nenhum. Mas ir até a casa dele era tão divertido, então por que não tentar passar a ponte?
Escolhi um dia frio e sem muito movimento e falei para o meu marido: eu vou ali passar a ponte e já volto. Depois da travessia a sensação foi tão boa que resolvi deixar a moto me levar, depois de um tempo liguei para casa avisando que estava lá no sul da ilha, na Armação do Pântano do Sul.
Adorei o passeio, então cada vez que sentia vontade de dar uma volta, ia para lá, não me arriscava para outros lados pois tinha medo de andar na beira mar norte de moto, porque lá tem “muito movimento”.
No outro ano, nas férias resolvi encarar as praias do norte e para isso precisava passar pela beira mar.
Saí de casa e poucos quilômetros adiante comecei a sentir uma tremenda falta de ar, palpitação, suador, medo, aí já veio aquela sensação de “o que eu estou fazendo aqui em cima desta moto?” e pensei em voltar. Fiz um retorno e parei num posto de gasolina. Adotei uma prática de me dar broncas do tipo: Aí, você é uma mulher ou um rato? Vai passar a beira mar, sim, ou quer morrer dentro de casa?
Entrei na loja de conveniência, peguei uma água, fiz exercícios de respiração, subi na moto e fui. Cheguei sem problemas à Cachoeira do Bom Jesus, para isso passando pela beira mar e pela SC 401, rodovia bastante movimentada.
Ano passado fiz minha primeira “viagem” como garupa, subindo a BR 282 com meu marido pilotando até Bom Retiro.

Tinha um trauma enorme da BR 101, então no ano passado fui pilotando à Itapema (60 km de Florianópolis) com um grupo de amigos motociclistas, pelo trecho norte totalmente duplicado.

E este ano quebrei o tabu que era vencer a BR 101 para o sul, aventura que será contada na parte III deste texto.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Estou doente, e agora?


Parece que a vida da gente foi um troço feito para definitivamente virar de pernas para o ar de vez em quando. E isso serve tanto para o pior quanto para o melhor.
Neste caso, recebi uma notícia bastante desagradável no ano passado.
Comecei a remar e descobri no remo “o esporte da minha vida”. Algo que juntava o prazer proporcionado por uma atividade física completa à tranqüilidade proporcionada pelos momentos de meditação e silêncio diante do espetáculo de ver o nascer do sol três vezes por semana, fizesse frio ou chuva. Tranqüilidade tão grande que me fez abandonar os ansiolíticos para controlar as crises e ainda capaz de me fazer manter o equilíbrio diante do estresse produzido pelo trabalho.
Depois de um determinado tempo, umas dorezinhas chatas que eu já sentia antes quando praticava capoeira e futsal, começaram a aparecer com mais intensidade e freqüência, o que fez com que eu procurasse um ortopedista para verificar o que estava acontecendo.
Em poucos dias me vi com o remo, o futebol, os sapatos de salto, as caminhadas, a dança nas festas, tudo cortado por conta de extensos laudos de raios-x, ultrassons e ressonâncias magnéticas. E ainda lido até hoje com o desconhecimento da causa de tamanho problema, pois a cada novo especialista que preciso consultar, o mesmo só tem agenda para pelo menos dois meses à frente.
Desgastes prematuros diagnosticados nas articulações dos quadris e joelhos, dores ocasionais nos ombros e tornozelos que sequer investiguei a fundo pois hoje em dia para cada “junta” tem um especialista diferente.
E agora? Tive cortadas exatamente TODAS as coisas que são capazes de manter minha cabeça funcionando sem a ajuda dos malditos remédios, e, claro, pirei o cabeção. Junto com a receita dos analgésicos, veio a receita do anti-depressivo e um afastamento por trinta dias das atividades laborais, que diante dos “não-diagnósticos” e persistência das dores ainda que de forma esporádica a cada episódio de um pouco mais de esforço além do repouso recomendado, se estendeu por mais noventa dias.
De uma hora para outra me vi em casa, não inválida, mas cheia de restrições as quais a pena pelo descumprimento eram as dores.
E agora, como ficar em casa esse tempo todo sem dar uma caminhada, remar ou jogar uma bola?
Optei por não tomar os anti-depressivos, apenas os medicamentos para a dor. Passados alguns dias comecei a “saborear” algumas coisas. Cozinhar depois de trabalhar um dia inteiro, com a cabeça cheia de problemas é insuportável, mas cozinhar de cabeça fresca, planejando o cardápio, fazer aquele prato que há muito tempo não fazia mas com tempo de sobra é outra coisa, ver isso reconhecido por quem divide a vida com você é melhor ainda.
De todas as restrições que tive, apesar dos protestos do médico por outros riscos, mas não o de agravamento do problema de saúde existente, pude continuar andando de moto.
Vieram as primeiras festas e convites para o barzinho, que na primeira semana fui com cara de enterro, mas com o tempo fui vendo que não usar um salto e não dançar não impede ninguém de se divertir num bar, num show, numa festa.
O afastamento me fez valorizar o tempo e o tempo me fez valorizar as pessoas. Quando você tem tempo, passa a conviver com pessoas que também tem tempo e percebe o quanto elas são mais felizes quando o ocupam de forma sábia.
Assim sendo, tendo a moto por meio de transporte, pude saborear coisas incríveis como no meio da tarde poder visitar um amigo no hospital que acabara de se tornar pai, passar o dia com meu pai, sobrinho, amigo ou parente que sentisse saudade.
Pude ler livros há tanto adiados pelo sono, cansaço e nervosismo, bem como adiar a leitura dos livros adiados para tirar uma soneca numa tarde de chuva, ou para pegar a moto e ir até uma praia numa tarde de sol, ainda que não pudesse aproveitar para dar uma caminhada. Sentar-se à frente do mar e admira-lo já é inspirador o suficiente. Entrar nele é refrescante o suficiente, e em alguns dias até servia como “bolsa de gelo para toda a parte de baixo do corpo”, dando alívio à sensação de dor.
Me dei ao luxo de fotografar meus bichos, as variações do tempo, a lua cheia, de andar duas quadras para fotografar o mar na beira mar de São José, ou sair de moto e parar na beira da estrada para fotografar qualquer coisa que achasse interessante. Uma das fotos que tirei nesse período é a que ilustra este texto.
As oportunidades que se sucederam foram tantas, os momentos felizes tantos que não pude reclamar da vida nesse período de afastamento, mesmo apesar dos dias em que precisei ficar na cama por causa das dores e sensação de peso nos membros inferiores.
Ao contrário, agradeci e muito, pois uma coisa muito ruim me trouxe outras muito boas e o que fiz com essa coisa ruim foi uma opção de vida. Poderia ter ficado sentada o dia todo reclamando por não estar “na ativa”, jovem desse jeito, mas preferi explorar novos horizontes.
Esse período de afastamento inclusive me possibilitou encarar mais um desafio de superação de um medo antigo, que relatarei em breve.
Claro que o tipo de problema de saúde favoreceu, pois há pessoas que não tem a possibilidade sequer de sair de casa, tamanha incapacidade provocada pelos seus problemas  e claro, há sempre os que acham que pelo fato de você não estar paralisado nem mutilado, por continuar se arrumando e se valorizando, está simplesmente fraudando a previdência para não ter que trabalhar, pensamento inclusive compartilhado pelo segundo perito que me atendeu. Imaginem, se eles consideram aptas ao trabalho pessoas mutiladas, que dizer de alguém que se apresenta diante deles com boa aparência apesar dos exames que comprovam as limitações?
Independente disso, estou voltando às atividades depois do carnaval, não tenho medo do que possa vir à frente, apesar de uma enorme vontade de não mudar uma linha na vida que vivo hoje. Quando voltar, porém, poderei dizer que depois de vinte anos de vida laboral, eu tive o direito de viver intensamente durante cinco meses.
Ainda não sei qual é o problema de saúde que tenho, continuo investigando, só sei que se não for grave, terá sido um presente que recebi ao invés de uma prova, e se for algo grave, será uma prova que tenho confiança que conseguirei superar, pois cada vez mais me convenço que independente do corpo físico que habitamos, nosso espírito não tem limites e é através da forma como nós o alimentamos que ele se torna cada vez mais forte e capaz de superar todas as adversidades.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tratamento de choque...

Para abrir as postagens deste blog, vou "transplantar" um texto que coloquei em meu outro blog: O Geographo, relatando a vez que resolvi voar como parte de minha automedicação para as fortes crises de pânico que me afligiam. É um texto de março de 2009, que eu sempre gosto de reler e relembrar:



"MINHAS FÉRIAS"

Quem não lembra do tempo de escola, que quando voltávamos em março, das férias, tínhamos que escrever a fatídica redação: “minhas férias”?
As férias eram legais, mas sempre iguais, praia, sorvete, cachoeira e pelo menos por uma semana éramos despachados para o sítio de alguma tia para encher a paciência de terneiros, ovelhas, e claro, das tias também.
São lembranças doces e ternas, de coisas que nos põem em comunhão com a natureza, com a família, com coisas demasiado boas, mas que um dia, pelo desenrolar da vida cotidiana, vão acabando, até que a própria lembrança também nos fica distante.
Chega, assim, o dia em que não precisamos mais escrever a fatídica redação e se ainda fôssemos obrigados a escrever seria algo como: “Peguei o dinheiro das férias para pagar dívidas, e, não tendo sobrado muito, vi alguns filmes no DVD comendo pipoca”. Ou até dá para ir a alguma praia desde que se tenha (uhuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!) muita força de vontade para encarar três ônibus e dois terminais além das filas.
Não vou dizer que é ruim pegar vinte ou trinta dias para simplesmente dormir até as duas da tarde todos os dias e virar a noite vendo filmes, porque não é. Mas também isso não produz muita adrenalina.
O fato é que as férias deste ano mereceram uma redação, que nem me é mais fatídica de fazer, porque tiveram um gosto muito diferente, tiveram gosto de vida.
Dizem algumas pessoas que anos terminados em 8 são agourentos. Olhe, eu não acreditava nisso até passar pela prova dos 88, 98 e 2008 que foram verdadeiros infernos em vida. E o ano passado foi cruel: fim de uma segunda habilitação na UDESC num curso que já estava me durando seis anos, junto com crises de depressão e síndrome do pânico. O din din das férias do ano passado me serviu para pagar a habilitação de carro e moto, das quais só consegui tirar carteira de moto, porque as crises de pânico não me deixaram tirar carteira para carro. Joguei o dinheiro fora, não aproveitei as férias e ainda me senti a derrota em pessoa.
Como todas as coisas repetitivas nesta vida nos enchem demais a paciência, em 2009 resolvi chutar o balde, com os dois pés. E a primeira coisa que me encheu a paciência foi essa tal de síndrome do pânico. Oras, uma moto zero, uma habilitação para dirigir e eu definhando dentro de casa com medinho de morrer. Morrendo cada dia um pouquinho, sem que me desse conta. Pensei, vai lá...se eu quebrar uma perna estou no lucro, se acontecer o pior, pelo menos estava tentando viver da melhor forma possível.
Decretei que em 2009 ia fazer coisas diferentes, e estou fazendo. Comecei um curso de mecânica de moto no SENAI, estou dando aula num cursinho pré-vestibular de geografia física, sendo que minha monografia foi na área de humanas e por aí segue.
Cansei de rotina. Chega de rotina! E apliquei isso também às minhas férias.
Fiz a lista das coisas que me borrava de medo. Tremia de pensar em atravessar a avenida Beira-mar norte. Passei por ela e fui até o norte da Ilha, mais precisamente na Cachoeira do Bom Jesus. Dei umas bandas para o Sul da Ilha no dia seguinte. Fiz uma mochilinha e resolvi “viajar” de moto até Palmas (Governador Celso Ramos), mas chegando em Biguaçu, vi o maior temporal armado para os lados de lá e voltei, afinal, me reservo ao direito de ainda ter medo de alguma coisa, e para mim moto e chuva não combinam muito não, só se for necessário mesmo e olhe lá.
Para encerrar as férias com chave de ouro, lembrei de um antigo convite do Tio Hiram, para fazer um vôo já que ele é um dos mais novos comandantes do aeroclube de São José. Pensei, lá em cima será o maior dos testes. Se eu tiver medo, terei que agüentá-lo e firme, porque não tem como descer.
A partir daquele lema de infância “nas férias, alugue um tio”, trocamos alguns emails, e no dia 22 de março de 2009, mais precisamente, cheguei de manhã aos hangares do aeroclube.
Depois de me tranqüilizar inspecionando e abastecendo a aeronave na minha frente, me apresentou ao “vovô”, lá conhecido como vovô Paulistinha (CAP-4 PT-ZMP, uma aeronave produzida em 1943), e em seguida entramos e nos dirigimos à pista.
Engraçado que já tinham me falado horrores dessas pequenas aeronaves, que chacoalhavam muito, que na turbulência parecia que iam cair, que pra descer chegava quicando... enfim, já com tudo isso na cabeça nem percebi que já estávamos acima das construções da região.
A primeira lembrança que me veio à cabeça, foi a do livro O Pequeno Príncipe (sim, li, e daí? Já posso ser miss, hahahaha). Saint-Exupéry, muito conhecido no Campeche por “Zé Perri”, atravessava a cordilheira dos Andes em aeronave semelhante e em seus escritos, filosofava: quantas casas lá em baixo, quantas luzes. Em cada uma delas uma famíla, algumas vidas. O que será que cada um deles faz neste exato momento?


O segundo estágio, já no topo do Cambirela nos coloca diante da nossa pequenez. Nos achamos grandes perto de um carro ou uma casa, ou do próximo, mas o que somos perto do “pequeno” Cambirela? A “quantidade de mundo” que dá para ver lá de cima embriaga. A gente esquece que não tem chão em baixo. Até se lembra quando atravessa alguma pequena turbulência, e se agarra às portas ou a qualquer outra coisa, como se fosse adiantar muito, mas o que se vê lá em cima, faz esquecer o resto.
O tempo parece parar. Ao contrário de um vôo comercial, a movimentação da aeronave é lenta, tudo é mais lento, a cabeça viaja a mil. Ainda mais cabeça de geógrafa, que quer fotografar aquela foz de rio ali, aquela erosão acolá, aquela ocupação em área de risco, ai socorro, até a máquina fotográfica se torna lenta demais.
Não sei explicar, se não tivesse voado com esse “olhar geográfico” talvez tivesse sentido mais medo, ou mais tensão, ou tivesse pedido para sair, mas não. Queria morar lá.
O dia estava quente, e pela possibilidade de viajar com a janela aberta, pude sentir o “gosto” das nuvens e constatei: são geladinhas! 


Ver as coisas lá do alto também nos reporta à filosofia budista, quando esta diz que nós e “nossa casa” somos uma coisa só, e que o que fazemos ao mundo e ao próximo tem reflexo em nós mesmos. O agrotóxico que o proprietário do sítio que vi às margens do Rio Cubatão utiliza, contamina as águas do rio que nos abastece, que desemboca no mar, contaminando os peixes (e o próprio mar), e essa água e esse peixe logo estarão contaminando ao proprietário do sítio. Nossa pequenez não nos deixa visualizar isso daqui debaixo, e nossa megalomania só nos faz piorar as coisas. Sempre ouvi dizer que nos distanciando um pouco do problema é que conseguimos enxergá-lo melhor. Se as pessoas voassem mais, pensariam mais no planeta em que habitam, tenho certeza!
Foi um presente antecipado de aniversário, e como eu mesma falei ao tio Hiram, um daqueles que a gente não esquece para o resto da vida. Chego mesmo a dizer que ninguém deveria morrer sem antes saber qual é essa sensação. Todo homem uma vez na vida deve se meter a peixe e a passarinho (a tatu também), já que nossa rotina de bichos-preguiça pouca coisa especial nos reserva. Ainda me falta mergulhar, quem sabe não fica para as próximas?
Só tenho mesmo é a agradecer pela oportunidade e dizer que superei mais um medo, metade graças á força de vontade, e outra metade graças à confiança que o comandante inspira em sua tripulação. Valeu, tio!

 
Nossa, já ia esquecendo de apresentar - Acima: Tio Hiram, o comandante. Abaixo: o vovô!