quarta-feira, 1 de maio de 2013

Será?

"Você nunca verá uma motocicleta estacionada do lado de fora de um consulório psiquiátrico".



Pode parecer uma grande ironia, mas alguns instantes após voltar do consultório psiquiátrico, onde pouco tempo atrás minha moto estava justamente estacionada à frente, vejo essa imagem postada no facebook por um colega motociclista. Incrivelmente esse post me levou a uma série de questionamentos, afinal, se tem algo que me faz bem, que me faz relaxar e me concentrar em uma única coisa, é justamente andar de moto. Mas ela estava parada na frente do consultório do psiquiatra.

Não tem sido um ano fácil pois algumas pequenas incomodações foram se acumulando ao ponto de este ano me fazerem ter que apelar para a medicação, mesmo tentando aguentar no osso do peito, resistindo a isso por mais de três meses. Mais difícil ainda é aceitar que essas coisas tenham tanto poder de incomodar quando se está no que podemos chamar de "uma fase muito boa" da vida...

Os mestres da auto-ajuda, os otimistas de plantão e os que nasceram de quina pra lua, vivem repetindo que na vida tudo é uma questão de escolha. Sim, até certo ponto, é, não posso discordar totalmente. Há porém, situações na vida em que a escolha pode ser apenas pelo menos pior, mas ainda assim necessita pesar e medir variáveis até que você chega à conclusão que o melhor a fazer é engolir o sapo e sem maionese. Só que o sapo está vivo e não para quieto, aí só resta a medicação, para dar aquela impressão que o sapo está morto...

Escrevo este post sob os efeitos horríveis da adaptação ao medicamento. Tonturas que não me permitem parar direito em pé sem pender para um lado, enjoos, falta de fome (perdi 1 kg em um dia, e já não tenho muito o que perder), sono maluco, secura na boca. Nem pensar em chegar perto da moto. Três dias em casa indo da cama para o sofá e vice-versa, nem na rua dá para sair sozinha.

O que me deixa pior, porém nem é isso, é a sensação de não conseguir resolver os problemas e ter que apelar para a "lobotomia" para conseguir suportá-los, pois ao contrários dos "fortes", o grau de ansiedade gerado por algumas situações que alguns conseguem suportar, no meu caso atingem níveis patológicos. Não dá para resolver os problemas acordando todos os dias com taquicardia, tremedeira, sensação de fraqueza nas pernas e a ponto de explodir, seja no trânsito, que já anda bem agressivo ou em qualquer situação de conflito por mínima que seja. Tem que apelar pro "amansa-loco".

Diferente de outras situações, o pânico não se instaurou, creio eu por conta de todos os trabalhos e tratamentos anteriores, trata-se agora somente de um caso de ansiedade impossível de ser controlada, pelo fato de ter que lidar diariamente com a causa . Aí eu vejo a importância de tudo o que já "investi" na saúde até hoje. Sim, estou uma bosta, mas poderia estar três vezes pior.

Não pude deixar de postar isso, porque quem vê o blog que fala sobre síndrome do pânico recheado de conquistas e coisas maravilhosas pode até desconfiar que se trata de um blog de propriedade de alguém que sofre mesmo do mal. Esse post é para mostrar o quanto estamos sujeitos a altos e baixos e o quanto temos que aceitar que isso fará parte das nossas vidas enquanto existirmos e que o segredo não é buscar freneticamente a cura e sim o controle. Correr atrás de cura definitiva só serve para colecionar frustrações. É possível viver momentos (e grandes períodos) incríveis mesmo apesar dessa predisposição, mas há que se estar sempre alerta aos menores sintomas, identificar o que pode ser evitado, e quando não pode, aceitar o tratamento.

O momento atual é de tentar descobrir formas de resolver ou amenizar os problemas, colocar a cabeça e as energias no lugar e seguir adiante, dias sim, dias não, tentando "sobreviver sem um arranhão", buscando a cada dia saídas para driblar e por fim, superar essa fase ruim. Quem sabe não é uma mexida que vem para definir coisas? Um tropeço que vem para acordar para a busca de outros horizontes? Ou o tal do "mal que vem para o bem"... O fato é que a hora é de arregaçar as mangas, de seguir em frente, afinal ainda tem muita vida pela frente e muitas viagens a fazer para registrar neste blog. Dependendo do meu esforço e da ajuda das pessoas queridas que me cercam, isso vai acontecer logo, logo.

Se viver fosse tão somente equilibrar-se sobre uma moto, certamente não só não haveriam motos estacionadas na frente dos consultórios psiquiátricos, como poderia afirmar que estes sequer seriam necessários.



Sangrando

Gonzaguinha

Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando
Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção
E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar


Um comentário:

  1. Adri, em primeiro lugar quero te dizer que sou solidária ao que estás vivendo... e que sim, tudo na vida é uma questão de escolhas (virgula) e de saber conviver com as consequências delas - talvez isso seja ainda mais difícil do que simplesmente escolher. Sei que não existe o "estar feliz o tempo inteiro", mas em alguns casos só a ausência de incomodação já é estar feliz.
    A frase do motociclista é legal, mas foi meio infeliz, porque tenta definir pessoas por um aspecto do comportamento quando na verdade somos um conjunto, um todo, porque exclui quem procura ajuda, é até uma forma de preconceito. Posso estar errada, mas foi a minha leitura.
    Eu desejo sinceramente que tu superes esta fase e que voltes fortalecida e confiante pronta a qualquer desafio!
    Pode contar comigo sempre que precisares.
    Um grande abraço e saudades!

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