Chamar de diário seria uma pretensão, mas este blog deve servir para ser o "ocasionário" de quem foi perseguida(o)pela síndrome do pânico e vive às voltas com o controle da ansiedade. Serve para relatar as coisas feitas apesar dos problemas e também as não feitas como forma de mostrar que o problema está aí e não é frescura, mas não é motivo para parar de aproveitar as maravilhas que esta vida oferece... DICA: Para entender melhor a evolução do problema, melhor ler o blog "de trás para frente".
NOTA 1: A postagem original é de setembro de 2012. Voltamos à Serra do Corvo Branco em janeiro de 2014 e constatamos que o estado de conservação da estrada está muito pior que estava à época do relato, sendo portando desaconselhável fazer esse passeio de moto custom, mesmo os 5 km que separam Urubici do corte da pedra. Fora isso, a serra está em obras de pavimentação, portanto é bom se informar também com relação às obras.
NOTA 2: A partir de janeiro de 2014, para quem quiser subir o morro da igreja para avistar a pedra furada em Urubici, é necessário retirar uma permissão no centro da cidade antes.
Rota apontada no Google maps:
Municípios (ida e volta):Partida de São
José-SC, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, Rancho Queimado,
Alfredo Wagner, Bom Retiro, Urubici, (Serra do Corvo Branco até) Grão Pará,
Braço do Norte, São Ludgero, Orleans, Lauro Muller (Serra do Rio do Rastro até),
Bom Jardim da Serra – Retorno por Urubici, Bom Retiro até Florianópolis.
Moto: Mirage GV 250, ano 2009
com dois ocupantes e três alforjes cheios.
Sobre os trechos:
Florianópolis
até Urubici pela BR 282: O trecho tem asfalto em bom estado de conservação e
bem sinalizado até a entrada de Urubici, mas quem não conhece requer atenção, pois
é uma serra não duplicada e extremamente sinuosa. Para chegar até o centro de
Urubici, tem uma descida de serra com asfalto muito ruim e também sinuosa,
requer atenção e paciência. Para quem quiser dar um pulo no Morro da Igreja
para ver a pedra furada, o acesso é de 17 km de curvas e subidas, com um asfalto bem
conservado, com aclive/declive acentuado. Corre o risco de dar com os burros
n’água e ver somente neblina no topo e nenhuma pedra furada, como foi meu caso.
De Urubici até onde começa a estrada para a Serra do Corvo Branco, a estrada é
“coisa de cinema” – um tapete liso, uma paisagem linda e extremamente bem
sinalizado.
Acesso ao Morro da Igreja em Urubici (retorno).
O "tapetão" entre Urubici e o começo da estrada para a Serra do Corvo Branco
Do final do
asfalto em Urubici (caminho do corvo branco) até Grão Pará: A placa no fim do
asfalto indica que Grão Pará fica a 34 km e que dali até a parte
emocionante da viagem são 3 Km.
Até chegar ao paredão entalhado em pedra e ter uma vista de tirar o fôlego, são
3 km
quicando e chacoalhando em uma estrada de chão em péssimo estado de
conservação. A descida da serra (dos cotovelos) requer cuidado e habilidade,
pois não é asfaltada e as curvas além de muito fechadas tem desnível no terreno
(lembram uma pista de skate), cabeças de pedra, valas de escoamento e “areião”.
A notícia boa é que esse trecho é curtinho e a vista lá de baixo continua sendo
de deixar qualquer um de boca aberta. Dali para a frente até Grão Pará,
alternam-se trechos ruins, muito ruins e péssimos de estrada de chão, durante
mais 30 km.
Esse trecho de chão levou em torno de 2h para ser feito, onde a velocidade
raramente ultrapassava os 20
km/h. Recomendo um pouco antes da chegada a Grão Pará,
uma chegada para molhar a goela no Rancho do Tomate. O povo ali é divertido e
extremamente receptivo.
Acabou a moleza, daqui até o corte na pedra, 3 km quicando, claro, se você estiver em uma custom.
Neste trecho, a estrada corta uma rocha, formando um paredão de tirar o fôlego.
Os "cotovelos"
Vistos de cima
Vistos de baixo
Vista após a descida. Daqui para diante, 30 km quicando até Grão Pará. Velocidade média de 20Km/h.
A volta pelo
Rio do Rastro: Para fazer a volta completa, fizemos a parada em Braço
do Norte para o descanso e no outro dia partimos em direção a São
Ludgero/Orleans/Lauro Muller e subimos a Serra do Rio do Rastro. De Bom Jardim
da Serra até Urubici a estrada é muito boa. Obs: abastecemos em Lauro Muller e
pegamos uma gasolina de má qualidade – sofremos de Bom Jardim a Urubici com a moto falhando.
Impressões sobre o passeio
As coisas não podiam
estar melhores. Um blog que inicialmente foi desenvolvido para relatar a
superação das crises de pânico está virando uma página de relatos de grandes
aventuras sobre duas rodas.
A que se segue não
poderia ter se desenrolado da melhor forma possível: na sexta-feira, já com
toda a programação para o fim de semana com direito a um rolezinho de moto pela
101, coisa aqui perto mesmo, recebi uma ligação-convite para fazer no fim de
semana os percursos das Serras do Rio do Corvo Branco e do Rio do Rastro.
Aceitei na hora, sem pensar.
Sábado, eram 9 horas da
manhã já estávamos na estrada. Fomos em uma moto apenas e nos revezamos na
volta, quando criei coragem de pilotar uma moto pesada, carregada e com garupa
de Bom Jardim da Serra até Urubici, depois de Bom Retiro a Alfredo Wagner.
Sem pressa, íamos
parando em locais interessantes para fotos, pontos turísticos, chegando por
volta de 13h a Urubici, onde paramos para almoçar.
Dali seguimos para o
Morro da Igreja para tirar fotos da pedra furada, o que não foi possível devido
à densa neblina, que nos negou essa vista, mas proporcionou outras tantas fotos
maravilhosas, além de não termos perdido a viagem pois praticamente fizemos um
book do graxaim que se prestava a posar para as fotos dos turistas. No meio do
caminho, parada na cascata Véu de Noiva, que estava ralinha pela falta de
chuvas.
Chegamos até o ponto de
descida da Serra do Corvo Branco por volta de 17h. A vista da estrada que corta
o entalhe em pedra e o cenário logo adiante são de prender a respiração, não se
sente mais vontade de sair dali, é algo inexplicável.
Quando se chega no
mirante e olha para baixo, a vontade já é outra, é de chorar mesmo pensando em
como descer aquela tranqueira: uma estrada em péssimo estado de conservação e
sem pavimentação.
A descida foi feita com
os motores desligados, com a moto praticamente travada nos dois freios e mais
parando do que andando, pois tinha horas que a estrada mais parecia uma pista
para skatistas do que qualquer outra coisa...
Partimos dali por volta
de 17:30, pegamos a estrada de chão à noite e lá pelas tantas passamos na
frente de um bar: uma casa de madeira à beira da estrada, lotada. Deu vontade
de tomar uma cerveja, claro, afinal estávamos parecendo dois fantasmas de tanto
pó na roupa. Cerveja vai, sinuca vem, dois músicos: uma viola e um violão e a
carne por conta da casa pois o dono do bar estava de aniversário, o povo vindo
conversar com a gente, descobrimos que todo mundo no bar conhecia minha
família. Com promessas de voltar, partimos.
Mais adiante, paramos
curiosos para filmar uma cancha de laço, onde a “vaca parada” era puxada por
motos de baixa cilindrada, onde os laçadores podiam mostrar seu talento sem que
para isso seja necessário machucar ou cansar os terneiros. Já ouvimos barulho
de gaita e violão e claro, ficamos por ali mais uma vez.
Lá pelas tantas o
violeiro perguntou se alguém se arriscava e pedi para tocar umas duas “modas”,
que viraram uma meia dúzia, e dali já não queriam nos deixar ir embora. Um dos
presentes nos colocou à disposição o sítio para passar a noite, antes mesmo de
saber quem éramos, e papo vai, papo vem, descobrimos que também conhecia toda a
minha família, como a maioria das pessoas que ali estava. Esse local é o Rancho
do Tomate, que com certeza vai ficar incluído na nossa lista de “locais a serem
revisitados”. Achamos melhor porém passar a noite em Braço do Norte, pois ali
já acordaríamos praticamente posicionados em direção ao pé da Serra do Rio do
Rastro.
Em Orleans, acabamos
passando da entrada de acesso ao paredão com as esculturas do Zé Diabo, mais
uma que fica para o próximo roteiro.
Após uma parada para um
lanche no mirante, assumi a moto até Urubici onde pude vivenciar mais uma
experiência nova, pilotar a moto com mais peso e com garupa. Como em Urubici
tem uma serrinha complicada, passei o comando de volta e assumi novamente de
Bom Retiro até quase Alfredo Wagner, onde senti que estava começando a “puxar”
fila, afinal minha experiência com curvas sem peso já não é das grandes, com
toda aquela carga então fica ainda mais difícil.
Acabamos pegando a 282
de noite de Alfredo Wagner até Florianópolis e, pela falta de costume de andar
à noite, pelo fato de ser uma serra, sem iluminação apesar da boa sinalização e
apesar de toda a confiança depositada no piloto, claro, tive meus momento de
paniquinho, porque o bagulho É TENSO! Fui salva pelo cantil de cachaça de
banana que estava no alforje: uma talagada na descida de águas mornas e outra
no posto de gasolina e cheguei uma beleza em casa. Pronta para outra!