Tenho colocado em pequenos posts a saga pela qual tenho passado este ano. Por motivos éticos, posso apenas contar os milagres (só que não são) sem poder contar os santos (só que também não).
Colocando tudo na balança foi um ano bastante difícil se contado do ponto de vista da saúde física e principalmente mental. Gastei demais com farmácia, de menos com cachaça, me incomodei mais que ri (e olhe que ri bastante), em resumo, fui besta.
Apesar de ter sido besta, pude contar com o apoio de pessoas maravilhosas, família, amigos, um namorado maravilhoso, consegui fazer uns passeios bem legais, mas tudo na base da luta para não me entregar de vez.
Fazendo um resumão de tudo o que aconteceu, alguns fatores os quais já expliquei anteriormente tinham feito a ansiedade começar a se manifestar de forma sutil. Um estresse aqui, um incômodo ali, uma coisa que desagradou acolá. Coisas que há anos estavam dormentes começaram a voltar à tona, a machucar, a perturbar. A impossibilidade de tomar uma atitude, pelo menos imediata diante do problema foram transformando tudo em fobia, em crises de raiva, de choro, e lá por março/abril deste ano resultaram em estacionar a moto em frente ao consultório psiquiátrico.
A tentativa malsucedida com um medicamento "sossega-leão" fez tentar novamente segurar as coisas no osso do peito. Mais cansaço, sofrimento, exaustão, desânimo. Como estava não dava para ficar. Mais uma consulta, mais uma receita controlada ali, amassada no fundo da bolsa, esperando que eu tomasse a decisão de começar a usar, não queria de novo. Me indicaram o telefone de uma psicóloga que poderia me ajudar com a questão. Aceitei, afinal só não estou há muito tempo de volta à terapia por falta de convênio e de grana. Resolvi investir em mim e voltar. Há quem compre carro, há quem pague por roupas e vestidos caros, há quem bote silicone e há quem prefira gastar essa grana com seu bem-estar. Resolvi me juntar a esses últimos, contando com um empréstimo.
Aguardei a primeira consulta com a terapeuta para avaliar a necessidade do medicamento e o estado estava tão complicado que ela achou que naquele momento não havia como continuar a rotina sem esse auxílio. Lá fui eu novamente à farmácia, com aquela cara de bunda, deixar meu endereço, telefone, CPF e identidade pro moço da farmácia. Nesse meio tempo consegui marcar psiquiatra pelo convênio, que, após atender um representante comercial, mal olhou na minha cara, mal fez perguntas, disse que o remédio que eu estava tomando tinha um de laboratório melhor, me deu duas receitas e mandou voltar dali há dois meses.
Minha terapeuta indicou um psiquiatra de sua confiança e tive consulta com ele ontem. Depois de muitas perguntas e conversas, ele achou que não preciso mais do remédio, ou na pior das hipóteses o que estou tomando não serve. Nesse momento preciso de endorfinas, praticar esporte, mexer o corpitcho e claro, manter a terapia, pois o que tem me afetado é estritamente comportamental e precisa ser trabalhado, preciso aprender a não sofrer diante do cenário que me está posto e não pode ser chutado para longe, pelo menos agora.
Vou ficar um mês sem o medicamento e volto a consultar, para avaliar como ficam as coisas. Caso haja piora, vai indicar apenas medicação leve, ansiolítica. Caso permaneça igual, e ele crê que somente a terapia dará conta, me livro da chatice dos controlados.
Nesse meio tempo, resolvi pintar minha casa. Eu mesma. Escolhi as tintas, as cores, umas cortinas novas. Lixei, pintei, instalei luminárias, tomadas, meu namorado instalou uma luminária que veio fora de padrão e agora preciso da ajuda dele para arrastar o armário do quarto, para poder pintar atrás. Com mais ou menos 300 reais estou de casa nova, e mais, num lugar onde passei a me sentir bem e aconchegada. Aquela brincadeira preconceituosa que diz que depressão se cura com cabo de enxada, tem um certo fundamento. Trabalho braçal faz bem à cabeça. Desfrutar desse trabalho depois é compensador, e o cansaço desse tipo de trabalho descansa a cabeça.
Comecei um curso de sete meses que atende a uma satisfação pessoal e não a um apelo do mercado, devagar as coisas boas tem tomado dimensão maior que a coisa ruim que tem me feito tanto mal, e devagar a vida volta aos eixos, e volto a ser quem eu sou. O próximo passo é me livrar da preguiça. Hoje recebi uma tarefa especial de minha terapeuta: comprar no mercado esta semana um abacaxi, descascar e comer, porque o que dá trabalho também pode ser muito bom!
Um grande abraço a todos!
P.S: Marcelo, meu amor, obrigada por toda a sua ajuda e paciência \o/