Quando criei este blog, tinha um objetivo em mente: ajudar. Ele trata de um tema delicado, ainda praticamente tratado como tabu pela sociedade.
O que me motivou a querer ajudar, vai além de simplesmente expor um problema pessoal que todos querem esconder. Poderia guardar isso para mim e "fingir que sou normal". Pedir no trabalho uma licença para ir fazer o preventivo quando na verdade estou indo ao psiquiatra. A grande motivação para tudo isso veio de minha mãe, ou da ausência dela.
Há 24 anos atrás, perdemos, aos 38 anos, uma pessoa alegre, com um grande futuro pela frente, para uma doença que fazia com que as pessoas lhe olhassem com dó ou atravessado: a depressão.
Ué, mas depressão mata? Sim, depressão mata. Mata cada dia um pouco até que a pessoa não suportando, pode desejar apressar o fim. E foi o que aconteceu. Também não tenho problemas em falar disso, pois é outro tabu que as pessoas preferem jogar para baixo do tapete. Minha mãe foi e sempre será meu grande orgulho e meu parâmetro tanto para o certo quanto para o inverso.
Tendo acontecido as coisas como aconteceram, a grande decisão que tomei foi que não importa o que aconteça eu vou conseguir sobreviver, e quando isso não for por mim, será por ela.
Não posso fazer absolutamente nada para consertar o que está feito, mas posso tentar ajudar outras pessoas a superarem este mal. Começo por mim e estendo aos outros. Li muito, estudei muito, e me preocupo muito com quem trata a depressão com displiscência, com quem "deixa rolar", com quem não reage, porque sei exatamente onde isso pode terminar.
Justamente por vergonha, medo do julgamento alheio, de serem vistas como desajustadas mentais e da auto-estima abalada, as pessoas deixam de procurar ajuda e tratamento, e "vão deixando rolar". Se é pela ignorância generalizada que acabamos perdendo pessoas queridas, então vai ser pelo esclarecimento que essa ignorância vai ter que começar a ser dizimada, e alguém tem que começar a falar.
Sim, tem que ter atitude. "Hay que tener cojones" para assumir publicamente que frequenta o consultório do psiquiatra, quando programas de TV sempre mostram pessoas associando psiquiatra a maluco, psicólogo a gente doida. Pior, vivemos num mundo maluco, todos cometem loucuras o tempo todo, mas "quem toma remédio"...ahhhhhhh, quem toma remédio... Noticiário mostra um maníaco assassino: "Fulano de tal tomava remédios para depressão", como se esse fosse o único perfil de quem necessita de medicamento. E assim se constrói a imagem. E assim as pessoas se escondem, não falam, e se arrastam no limbo.
Me exponho porque exijo um mundo que aceite serotonina de mais ou de menos da mesma forma que aceita insulina de mais ou de menos. Porque não é necessário perder mais ninguém por vergonha e porque nasci premiada com uma baita cara de pau também, isso ajuda.
Sinto que o blog atinge seu objetivo quando recebo emails ou mensagens inbox, chamadas particulares, conversas particulares relatando o problema e que comigo ficam guardadas pois sei perfeitamente o que se passa pela cabeça de quem não quer se expor, e tenho profundo respeito, pois sei o quanto é difícil. As mais gratificantes são aquelas de quem diz que os relatos aqui contidos acabam vez ou outra encorajando pessoas que antes se sentiam sozinhas nessa luta, de pessoas que passam a se sentir mais normais quando leem algo postado. Isso não tem preço.
Quando montei o blog pus um maldito contador que zerou duas vezes. O blog deveria estar agora contando com mais ou menos 5.000 acessos. Troquei por outro mais confiável, que assim como eu, mais uma vez está recomeçando do zero e quem sabe agora não me deixe mais na mão.
Por todos esses acessos é que venho com este post agradecer a todos o que o leem, o divulgam e o utilizam como apoio, não interessa se nas horas difíceis ou nas boas, afinal também posto roteiros de passeios e também recebo pedidos de informações sobre eles, pois a cada retorno que tenho, é um bem que algum de vocês leitores me faz.
Assumidos ou escondidos, tenham dentro de vocês a gana de resolver os problemas e de sobreviver a eles. O primeiro passo para mudar é o desejo de mudar. Pode parecer cruel dizer isso mas em muitos casos é cômodo ficar doente. Não ter dentro de si esse desejo e a disciplina para que as coisas mudem, nos escraviza ao problema e escraviza quem está à nossa volta. Tem coisa interessante demais nesse mundo para ficarmos trancados em casa vendo a vida passar pela gente e roubando nossos melhores anos. Fiquem bem, é possível sim!
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Baía da Babitonga - São Francisco do Sul - SC |